Hoje é uma data especial: equinócio de primavera no hemisfério sul. Nesta passagem de estação, o Planetário do Carmo faz uma homenagem a um artista que nasceu na primavera e encerrou sua jornada terrestre no outono de 2020.

Quando a pandemia de Covid-19 chegou à cidade de São Paulo, o encantamento pelo cosmos e a sensibilização do público paulistano por meio da projeção do céu ficaram de lado, pois as salas dos planetários permaneceram vazias. Neste período, as redes sociais se tornaram a principal forma de comunicação, transformando as relações entre os planetaristas e seus trabalhos. Da mesma maneira, estavam parados ou extremamente limitados aqueles que dedicam suas vidas ao encantamento, às expressões das dores do mundo e das angústias de gerações através do tempo e do espaço: os artistas, responsáveis também por inúmeros motivos de alegria em nosso cotidiano. Um desses artistas em particular inspirou diversas gerações a se encantar pela natureza e pelo cosmos através da música, especialmente da música coral, especialmente na cidade de São Paulo.

O Maestro Martinho Lutero Galati de Oliveira, cuja trajetória se estende por quatro continentes nos quais criou e dirigiu a Rede Cultural Luther King (1970) em São Paulo, a Associação Cultural Tchova Xita Duma (1982) em Moçambique, a Associação Cultural Cantosospeso (1987) em Milão e realizou intensas atividades por Goa, Hampi e Bangalore na Índia (2018), era apaixonado pelos mistérios do universo buscando conectar, quando possível, céu e música. Assim aconteceu durante o Curso Internacional de Aperfeiçoamento Musical, dentro do “Projeto Vocalia” de intercâmbio artístico-cultural, quando cantores profissionais e estudantes de canto do Brasil, da Itália e do Paraguai se encontraram na Misión Jesuitica de San Cosme y Damián entre 2012 e 2013. Ali, além dos aprendizados musicais nas ruínas das missões, o maestro convidou os participantes a conhecer o observatório astronômico construído por Buenaventura Suárez, considerado o primeiro astrônomo da América do Sul a efetuar observações e medições da abóbada celeste. Em 2016, em busca de inspiração nos céus do Deserto do Atacama, visita o projeto ALMA - Atacama Large Millimeter/submillimeter Array e encontra ali exatamente a alma da música de Morten Lauridsen “Lux Aeterna” que viria a ser realizada mais tarde num dos projetos mais caros ao seu coração, a Camerata Sé que levava música clássica aos quatro cantos da cidade de São Paulo. Em 2019, realizou encontros com regentes e coralistas nas dependências da Escola Municipal de Astrofísica Professor Aristóteles Orsini a fim de estreitar as relações com o Planetário do Ibirapuera, local que lhe marcou profundamente.
O Maestro Martinho Lutero Galati de Oliveira teve sua trajetória atravessada pelo profundo interesse na intensa conexão entre as ciências e as artes. Importantes projetos de sua autoria contribuíram para esta conexão através da difusão do canto coral, atividade gregária e multiplicadora por natureza, destacando o “SP Cidade Coral”, que reunia diversos coros da cidade, e o “CANTA São Paulo”, ligado à rede básica de ensino público que pretendia “musicalizar” os professores que seriam por sua vez os agentes de musicalização junto aos alunos. Uma constelação de ações potencializadas por incontáveis concertos gratuitos que incentivaram a criação da Lei nº 16.716/2017 (Vereador Prof. Eliseu Gabriel), responsável pela inclusão da “Semana Municipal de Canto Coral - Arte e Cidadania” no calendário cultural da cidade de São Paulo, hoje intitulada “Semana Municipal Canto Coral - Martinho Lutero Galati - Arte e Cidadania”.

Esta homenagem do Planetário do Carmo abre mais uma edição da Semana Coral que leva o seu nome e busca resgatar a função de encantar e sensibilizar o público em suas casas, enquanto nos preparamos para abrir as portas do nosso anfiteatro.

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