Um dos registros mais antigos do acervo histórico da médica Elisabeth Kübler-Ross, este vídeo é também um dos registros mais antigos da moderna Tanatologia. Esta experiência permitiu a entrada dos modernos Cuidados Paliativos nos Estados Unidos da América.
A equipe que conseguiu estas preciosas imagens não pôde recuperar com qualidade todo o material, datado dos anos de 1960, e que sofre de certas interrupções. Ainda assim, é possível conhecer os pensamentos e as reflexões iniciais de Kübler-Ross acerca do trabalho com pacientes diante da morte e suas famílias.
Elisabeth conduz, no vídeo, um dos seus famosos Seminários sobre a morte e o morrer, que produziram uma radical transformação no modo de entender os cuidados com pessoas diante da morte. Ao invés de a própria Elisabeth ensinar como se cuidar deles, ela pediu que os pacientes fossem os professores, e ensinassem como ajudá-los a construir um sentido de dignidade e paz, ainda que diante da possibilidade ou da realidade de uma morte próxima.
Em 1966, Elisabeth foi procurada por quatro estudantes que desejavam estudar as maiores crises da vida, e eles concordaram que dentre as crises que mais se destacavam, a maior seria a morte.
Elisabeth propôs, então, que se iniciasse uma série de seminários para se entrevistar pessoas com doenças graves e diante da morte, na frente de alunos, com finalidade didática.
A ideia das entrevistas era puramente didática, e era conduzida com redobrado cuidado metodológico por Elisabeth, e, portanto, inatacável, do ponto de vista ético. Mais de 400 pacientes foram entrevistados, semanalmente, sempre às sextas-feiras, com os alunos observando todos os detalhes.
Entre os objetivos visados com o seminário, estavam os seguintes:
1°. Tomar o paciente como professor, e permitir que ele revele seus valores, suas crenças, sua história, as principais dificuldades vividas na lida com a doença e com a morte. Tomar o paciente como o professor não significa tomar lições do ponto de vista genérico, mas aprender com a própria pessoa adoecida qual o melhor caminho para cuidar dela.
2°. Desenvolver recursos para acessar os pacientes, a partir de um sólido referencial teórico, aprendendo a explorar fenomenologicamente os sentidos e os significados atribuídos à experiência de adoecimento de cada paciente e seus familiares.
3°. Examinar as reações contratransferenciais mais comumente evocadas na lida com a morte e o morrer, identificá-las e dar um novo sentido para elas, de forma a facilitar que os alunos possam ter uma renovada disponibilidade interna para sustentar o cuidado com pacientes gravemente enfermos. Do ponto de vista dos assistentes, eram examinados medos, ansiedades, angústias, nojo, raiva, mas também aderência subjetiva extremada, amor, ternura, identificações, etc.
Esta experiência tão reveladora, de grande impacto para a Tanatologia e para os Cuidados Paliativos, possibilitou o lançamento da obra "Sobre a morte e o morrer", em 9 de março de 1969, cujo cinquentenário será comemorado no ano que vem, em 2019.
A obra 'Sobre a morte e o morrer', traduzida para mais de 25 idiomas diferentes, conta hoje milhões de cópias vendidas, segue sendo lida no mundo todo, inspirando milhares de pessoas a dedicarem-se ao cuidado de pessoas diante da morte ou em luto.
Objeto de alguns mal entendidos, a obra não teve por objetivo elaborar um conjunto rígido de estágios que os pacientes necessariamente atravessariam, do diagnóstico até a morte, mas possibilitar que os pacientes comuniquem suas histórias de vida, seus valores, seus medos e suas esperanças, e de como integrar esta narrativa a um tratamento absolutamente singularizado para cada paciente e sua família.
Em função deste trabalho verdadeiramente humanitário, os Seminários sobre a morte e o morrer lançaram Kübler-Ross no centro de uma discussão mundial sobre as necessidades das pessoas diante da morte, tornando-a uma importante pioneira deste movimento.
O vídeo pode ser reproduzido exclusivamente para finalidades recreativas e/ou pedagógicas, e não está autorizado o uso com fins comerciais.
Tradução e legendas: Ana Francisco
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