Nessa última semana vivi o luto de perder um irmão de coração. Alguém que eu admirei no meu período de formação musical e sempre achei um músico excepcional e não sabia se um dia teria condições de tocar com ele.
Mas a vida foi benevolente comigo e me oportunizou não apenas conhecê-lo mas ser amigo, e não apenas ser amigo, mas, irmão.
O cara que ligava quase todo dia para falar de tudo sobre música, produções, vida, espiritualidade, cosmos, piadas e qualquer coisa que viesse a mente.
Tocamos por anos em diversos projetos, viagens, estúdios, palcos e workshops.
Pensávamos na educação musical, na arte como primeiro plano e num futuro de muitas realizações.
Eu sempre o admirei musicalmente em cada situação, mas para mim valia mais ainda a amizade, o convívio, as horas de joga fora e o brinde a amizade e a música. A última vez que nos vimos pessoalmente foi dia 14 de agosto de 2019. Ele partiu dia 15 de agosto de 2020.

O guitarrista que me ligava para falar de Debussy, para analisar uma frase do Brecker ou mesmo para perguntar sobre como eu pensava sobre determinadas possibilidades de aplicação harmônica.
Nos influenciamos mutuamente nas produções, composições, redes sociais e concepção profissional.
Sempre me levou muito a sério como músico. A ponto de passar dias estudando minhas partituras para um show ou gravação. E na hora valendo ele nunca deixava a desejar e nem criava desculpas. Tava sempre pronto e com concepções a mais do que o proposto.
Porém a morte é impetuosa e desconhece talentos ou personalidades.
O Alex foi um músico que conquistou a admiração de nomes como Pat Metheny, Lyle Mays, Jerry Bergonzi, Dave Liebman, Danilo Perez, Ed Motta, João Bosco e tantos mais.
Sua história permanecerá viva por meio de sua música principalmente. Esse é o seu maior legado, porque fala sobre ele da forma mais sincera.
Como pessoa, excêntrico, com peculiaridades que só quem o conhecia podia entender.
Estávamos planejando sua vinda para daqui um mês aqui em casa. Para mais 15 dias de aventuras musicais. Ele seria o professor de guitarra na Escola de Solistas. Estava tudo pronto.
Não queria vir de avião por causa do Covid. Queria vir de carro. Nossa última conversa foi um dia antes e durou 37 minutos.
Ainda não caiu a ficha para mim, porque toda hora que quero falar algo ou mandar uma brincadeira para um amigo, vejo o nome dele nos meus contatos, mas a memória diz, NÃO!
Isso destrói a gente por dentro, porque é isso e não tem volta.
Então conviver assim será para sempre horrível e não vai ter alívio, a não ser pelo fato de que a música dele continua conosco.
Mas por outro lado, preciso liberar da minha parte a alma dele para que possamos seguir. Então fiz esse pequeno vídeo com alguns momentos dele e que tive a honra de conviver. Assim, hoje no sétimo dia de sua partida eu deixo minha alma em paz para agradecer a você meu irmão, como nos chamávamos, por todos os momentos que vivemos, evoluímos e construímos de amizade e irmandade.
Sei que você está em paz e não sofreu em sua partida. Você apenas repousou e saiu dessa existência sutilmente, assim como eram seus solos.

Obrigado Alexandre Carvalho.

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